No Dia Nacional do Pastor, GIRO Serra entrevista o Pr. Vladimir Soares: 'Servir ainda é a maior fonte de autoridade em qualquer seguimento'
Com uma trajetória marcada por serviço, viagens missionárias por dezenas de países e um forte compromisso com a cidade onde nasceu, Pastor Vladimir compartilhou sua visão sobre o papel pastoral na sociedade contemporânea

Neste domingo, 8 de junho, é comemorado o Dia Nacional do Pastor, data que homenageia homens e mulheres que se dedicam ao cuidado espiritual, social e emocional de suas comunidades. Em tempos marcados por crises éticas, morais e espirituais, o ministério pastoral segue sendo um farol de esperança e direção para milhares de brasileiros.
Em celebração à data, o GIRO Serra conversou com o Pastor Vladimir Soares, líder da Comunidade Evangélica Vitória, em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro. Com uma trajetória marcada por serviço, viagens missionárias por dezenas de países e um forte compromisso com a cidade onde nasceu, Pastor Vladimir compartilhou sua visão sobre o papel pastoral na sociedade contemporânea, os desafios enfrentados ao longo da caminhada e uma mensagem especial aos seus colegas de ministério.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
1. Pastor Vladimir, neste Dia Nacional do Pastor, como o senhor enxerga a importância do ministério pastoral na sociedade atual, especialmente em tempos de crise ética e espiritual?
"A figura do pastor evangélico passa por, nesta geração, uma necessidade de renovo do conceito da chamada pastoral, sua vocação, e, principalmente, seu propósito.
O texto bíblico que melhor qualifica um pastor de almas é João 10, versículos 11-18, onde Jesus se descreve como 'o bom pastor' e explica o seu papel de cuidado e proteção às suas ovelhas, incluindo a disposição de dar a vida por elas. Este texto enfatiza a responsabilidade e o amor que um pastor deve ter por aqueles que serve.
No livro de Provérbios, capítulo 27 verso 23, lemos: “Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; põe o teu coração sobre os teus rebanhos.”
Jesus perguntou três vezes a Pedro se ele o amava. E a cada vez que Pedro lhe respondeu sim, Ele lhe ordenou: apascenta as minhas ovelhas!
Poderia, sem receio de errar, afirmar que a característica principal de um pastor de almas não é sua eloquência, inteligência, ou capacidade de se comunicar com as massas. Mas, se ele ainda está disposto a deixar tudo para trás, a fim de socorrer uma única ovelha que se perdeu e se feriu. Precisamos como pastores, responder uma vez mais ao Senhor Jesus se o amamos mais do que a fama, riqueza e posição. Para assim, sermos qualificados a cuidar de Suas ovelhas."
2. Ao longo de sua caminhada ministerial, quais foram os maiores desafios e alegrias que o senhor enfrentou no pastoreio da Comunidade Evangélica Vitória?
"A Comunidade Evangélica Vitória teve um nascimento bíblico, daquilo que aprendemos como implantação de igrejas. Não dividimos e nem abonamos a divisão no Reino de Deus.
A Vitória nasceu daquele que ela sustenta até hoje: da pregação do Evangelho genuíno do Senhor Jesus Cristo. A Vitória é um ministério profético e apostólico. Sempre envolvida com os momentos mais delicados de nossa cidade e população. Não apenas marchando e cantando, pregando em todos os lugares possíveis, mas sendo empática com as necessidades do nosso povo. Atuando fortemente nas tragédias, no socorro àqueles que carecem, tendo um papel profético (não politiqueiro) com nossos governantes.
Mas, entendendo que “política” é a preocupação com os assuntos da 'Pólis' (cidade). Sempre observando o que Jesus ensinou: 'o que a mão direita faz, não precisa que a esquerda saiba'.
Talvez entre os momentos mais desafiadores que vivemos como igreja – e que repercute em nossa realidade ainda hoje – tenha sido ter que demolir o templo, que na época, era o maior espaço em auditório de uma igreja evangélica na cidade. Ali, trouxemos pessoas para ministrar gratuitamente à Igreja na Cidade – ali, promovemos encontros inesquecíveis, recebemos as vozes mais relevantes nacionais e internacionais daquele momento.
Por uma determinação do IPHAN, tivemos que demolir tudo. Doamos nossos equipamentos e móveis às igrejas locais – e nos ressignificamos para lutarmos outras batalhas. Na certeza de que, no Senhor, nosso trabalho jamais foi ou será vão."
3. O que representa, para o senhor, ser pastor em uma cidade como Petrópolis, marcada por uma forte tradição religiosa e por tantos desafios sociais?
"Petrópolis é a cidade natal de minha esposa, Pastora Ester, e também a minha.
Em algum momento de nossas vidas, quando era muito raro brasileiros viajarem para o exterior, tivemos a oportunidade de sair, completar nossos estudos na Inglaterra e vivermos em pelo menos 11 países da Europa. Depois, adentramos o leste europeu, e chegamos às antigas repúblicas da extinta União Soviética – retornamos à Europa, seguimos dali para o continente africano, servindo ao Senhor Jesus desde o Senegal (norte da África) até a Costa do Marfim no Sul.
O servimos na América Latina, na América do Norte, Ásia… e, em algum momento, ouvimos Deus nos chamando de volta para nossa cidade natal, onde daríamos início à Comunidade Evangélica Vitória em 12 de janeiro de 1992.
Petrópolis é uma cidade ímpar. Com uma cultura única – diferente de qualquer outro município entre os 92 do nosso estado. Tem um nível cultural aguçado; um povo mais reservado quando comparado, por exemplo, ao “carioca da gema”; mas um povo resiliente, com excelência naquilo que faz e pensa.
Nosso desafio é com o presente. As comunidades encravadas nas encostas, a cidade que não se vê nos cartões postais, o povo que paga caro por viver em um lugar turístico, a vocação econômica da cidade que lhe distanciou de seu passado das grandes indústrias têxteis – causando uma grande demanda para empregos e giro de riquezas.
Nosso povo é mais reservado, sim, mas também é franco e comprometido.
Nunca tive dificuldade de me sentar com os representantes da Igreja Católica, por exemplo, quando o assunto era de interesse do bem-estar das famílias cristãs de nosso município, preservação de nossos valores, ou momentos decisivos que precisam ser tratados com discrição e responsabilidade.
Vivemos bem aqui! Ainda somos considerados o município mais seguro do estado – mas temos os desafios camuflados sob nossa riqueza cultural. Temos um alto índice de dependentes de drogas e alucinógenos, temos um grande problema com álcool, principalmente para os mais jovens, temos um desafio com famílias que sofrem muitas vezes por desestrutura e valores – e creio que o que justifica um ministério é quando ele consegue responder a que problema ele se propõe a responder."
4. Como o ministério pastoral pode contribuir de forma prática para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e conectada com os valores do Reino de Deus?
"Nossa contribuição é relevante, quando podemos oferecer lares alicerçados sobre princípios, fundamentos e valores cristãos.
Quando podemos tocar e influir na vida de jovens no momento crucial de suas escolhas, cujo resultado lhes acompanhará por toda as suas vidas.
Quando podemos conscientizar famílias sobre aquelas crianças que sonham em serem adotadas, quando podemos pesar nos princípios de nossa educação pública e privada, quando podemos oferecer vocacionados para área de saúde, justiça, educação…
Afinal, nossa sociedade é formada por indivíduos. Um dos nossos indivíduos ocupará, em algum momento, lugar de influência nos poderes executivo, legislativo, judiciário – que bom, se for algum que conheça nossa cultura, o jeito do nosso povo de ser – mas também alguém que carregue em sua bagagem as marcas do Evangelho de Cristo.
A Igreja não institucional é formada de CPF’s. São grãos de sal – para temperar, mas não necessariamente serem vistos. São raios de luz e esperança na vida de pessoas que não enxergam uma saída, um caminho, um futuro…
A Igreja é sacerdócio – mediadora, intercessora, apaziguadora, conciliadora.
Creio que essas características que extraímos do Evangelho de Jesus Cristo são prementes não apenas aqui, ou em nosso estado e país, mas no mundo. Pisei em mais de 70 nações do mundo, e percebi que o Evangelho apresenta a resposta que o mundo não tem. O Evangelho trata de uma pessoa, Jesus – e do nosso relacionamento com Ele e como isso afeta a nossa cosmovisão."
5. Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para os demais pastores de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, e região neste dia tão especial, reconhecendo o chamado e o serviço de cada um?
"Representei por anos os meus pares como presidente do Conselho de Pastores na cidade.
Sempre me inspirei tanto para a Igreja local quanto para o Corpo de Cristo na cidade e o Reino até os confins da Terra, numa declaração do Apóstolo Paulo, por quem tenho grande admiração. Ele disse em 2ª aos Coríntios 12 verso 15:
'Eu, de muito boa vontade, gastarei, e me deixarei gastar, pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.'
Minha disposição e determinação em servir nunca visou reconhecimento ou fama pela fama.
• Paulo fala que ele servia de boa vontade – não por torpe ganância. Servir ainda é a maior fonte de autoridade em qualquer seguimento. Diria aos meus pares: sirvam a Deus, sirvam aos seus entes, sirvam a cidade, sirvam ao Reino – de boa vontade!
• Paulo fala em se permitir gastar. O Evangelho não é sobre acumular, e sim, sobre se doar. A prosperidade ministerial não está relacionada em quanto acumulamos, mas em nossa determinação em nos dar. Ninguém está interessado em conhecer o quanto eu sei, até que saiba o quanto me importo por ele.
• Paulo diz que o amor dele se intensificava, enquanto que o amor daquele a quem ele se derivava se esvanecia – mas ele seguia amando.
Paulo amou diferente de João, de Barnabé ou de outro apóstolo… Paulo amou sendo autêntico, resiliente, assertivo, mas também sendo humilde, reconhecendo seus excessos, buscando reparação.
Um dia ele responderia a um rei grego (Agripa): 'Eu não fui desobediente à visão celestial'.
Precisamos estar sempre revendo, analisando, nos permitindo a reflexão se estamos colocando nosso coração em nosso rebanho, como Salomão orientou. Se ainda somos capazes de dar a vida por uma simples ovelha, se buscamos glória própria, atribuindo ao sucesso do Reino de Deus aquilo que é pretensão de glória própria.
Se somos aqueles a quem Jesus mandou servir pão e peixe à multidão ou, se vamos nos servir dela."
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