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A ideia de que nossa realidade pode ser uma simulação não é nova e dialoga com várias tradições filosóficas. Filósofos e escolas de pensamento ao longo da história exploraram o conceito de uma realidade ilusória, sugerindo que o que percebemos pode ser apenas uma sombra do real. Platão, por exemplo, com sua alegoria da caverna, argumenta que os seres humanos vivem presos a uma realidade limitada, vendo apenas sombras de objetos projetadas na parede de uma caverna. Para ele, essa "caverna" simboliza a nossa ignorância e limitação de percepção. Aqueles que conseguem se libertar dessa prisão podem enxergar o "mundo das ideias", onde reside a verdade. 

Essa alegoria ressoa com a hipótese da simulação, na qual nossa experiência do mundo seria uma versão distorcida e limitada de uma realidade mais abrangente. Como afirmou o filósofo Luiz Fellipe de Carvalho, “A caverna de Platão, de certo modo, é uma antecipação do conceito de simulação; a realidade que enxergamos é apenas uma versão empobrecida, projetada por nossos sentidos limitados”, destaca. Na filosofia védica, especialmente no Vedanta, o conceito de mahamaya explica que o mundo material é uma ilusão, um "véu" que encobre a verdade espiritual. Assim como na simulação, essa ilusão mantém as pessoas presas a uma percepção enganosa da realidade. 

O Vedanta ensina que é possível "acordar" para uma realidade maior através do autoconhecimento e da compreensão espiritual. “Essa visão não é apenas uma metáfora, mas um convite à percepção de que o que tomamos como realidade é apenas uma camada superficial”, reflete Luiz. 

Foto: Divulgação 

A filosofia cartesiana, com René Descartes, também contribui para essa ideia. Em suas Meditações, Descartes explora a possibilidade de que toda a sua realidade possa estar sendo manipulada por um "gênio maligno" que o engana. Esse pensamento se aproxima da ideia de uma simulação em que uma entidade ou sistema externo controla as experiências de uma pessoa, fazendo-a acreditar em uma realidade fabricada. “Descartes nos convida a duvidar radicalmente do mundo sensível. Um passo importante na direção da dúvida sobre a autenticidade da realidade que vivemos”, acrescenta. 

Já a filosofia de Immanuel Kant aborda a ideia de que o que percebemos é mediado pelas estruturas da mente humana. Para Kant, nunca temos acesso direto à "coisa em si" (a realidade última), apenas às representações filtradas por nossa mente. Ele argumenta que tudo o que experimentamos é condicionado pelo tempo, espaço e causalidade, estruturas mentais que moldam a realidade para nós. “Kant sugere, portanto, que nossa percepção é uma interpretação construída e limitada — um ponto que fortalece a hipótese de uma simulação. A filosofia kantiana nos faz pensar que estamos em uma simulação criada pela própria mente, onde a realidade última permanece inacessível”, propõe o especialista.  

Essas filosofias juntas sustentam a ideia de que a realidade como a conhecemos é uma versão limitada, ilusória ou manipulada de uma verdade maior e inacessível. Em cada caso, a realidade é colocada em xeque, e o questionamento permanece: podemos confiar em nossas percepções? Como Luiz Fellipe de Carvalho resume: “A suspeita sobre a realidade atravessa a história da filosofia, seja como caverna, ilusão, dúvida ou estrutura da mente. A simulação é apenas a mais recente dessas inquietantes metáforas”, finaliza.

Sobre Luiz Fellipe Gonçalves de Carvalho

Sociólogo, filósofo, palestrante e escritor. Idealizador da escola de yoga “Movimento Ahimsa” e membro da sociedade de alto QI Mensa. Pesquisador do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito - CPAH.

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