Lívia Ikeda Martins

Criptoativos e o Sistema de Pagamentos Brasileiro: o alerta da PAGOS e o desafio da maturidade digital
Movimentações suspeitas com stablecoins acendem alerta no setor de pagamentos; Comitê da Associação PAGOS recomenda reforço nos protocolos de segurança para proteger o SPB

A nota divulgada pelo Comitê de Ativos Virtuais da Associação PAGOS na noite de ontem não é apenas um comunicado técnico, é um sinal claro de que o Brasil está diante de um novo capítulo na relação entre inovação financeira e segurança sistêmica. O alerta sobre movimentações atípicas com stablecoins, especialmente o Tether (USDT), expõe uma vulnerabilidade crescente: a conversão de ativos digitais em reais por meio de instituições de pagamento que operam no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
Segundo o Comitê, foram identificadas tentativas suspeitas de saque e compra de USDT por contas ligadas a empresas com baixo nível de KYC, um indicativo clássico de estruturas “laranjas”. A movimentação em massa levanta hipóteses de preparação para fraudes financeiras, com foco na ponta de conversão entre criptoativos e moeda fiduciária.
O que esse alerta realmente significa?
O crescimento do mercado de criptoativos no Brasil é inegável. A adoção de stablecoins como o USDT tem se intensificado, especialmente em operações de liquidez rápida e fora do horário comercial. Mas com essa expansão, surgem também os riscos: fraudes estruturadas, lavagem de dinheiro e uso indevido de plataformas legítimas para fins ilícitos.
O Comitê da PAGOS acerta ao recomendar medidas preventivas como:
Monitoramento de operações fora do padrão habitual.
Restrição de transações com corretoras em contextos suspeitos.
Bloqueio e reporte imediato de tentativas irregulares.
Cooperação ativa entre equipes de segurança das instituições.
Essas ações não são apenas reativas, são fundamentais para preservar a integridade do SPB e garantir que a inovação não se torne uma brecha.
O papel das instituições de pagamento: entre a inovação e a responsabilidade
Instituições que oferecem integração com criptoativos estão na linha de frente dessa transformação. Elas são, muitas vezes, o ponto final da conversão de ativos digitais em reais. E é justamente aí que mora o risco, e a responsabilidade.
A nota da PAGOS não acusa, mas alerta: a sofisticação das fraudes exige uma sofisticação equivalente na prevenção. Não basta ter tecnologia — é preciso ter governança, inteligência de dados e protocolos de segurança que antecipem comportamentos suspeitos.
O futuro exige maturidade digital
O alerta envolvendo o USDT não é apenas um chamado à cautela, é um sinal claro de que o Brasil precisa acelerar sua maturidade regulatória e tecnológica no campo dos criptoativos. A transformação é inevitável.
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